sábado, 26 de janeiro de 2008

Resenha A História Recente do Brasil - por Vieira

Sônia Regina de Mendonça concluiu o doutorado em História Econômica pela Universidade de São Paulo em 1990. Atualmente é Aposentada da Universidade Federal Fluminense. Publicou 34 artigos em periódicos especializados e 41 trabalhos em anais de eventos. Possui 15 capítulos de livros e 15 livros publicados. Recebeu 2 prêmios e/ou homenagens: o Prêmio Cientistas de Noso Estado da FAPERJ (2004) e o Edital Universal do CNPq (2005). Atualmente coordena 2 projetos de pesquisa e é líder do Grupo de Pesquisa "Estado e Poder no Brasil". Atua na área de História, com ênfase em História Política do Brasil República, além de História da Agricultura Brasileira no Século XX. Virgínia Maria Fontes possui graduação em História pela Universidade Federal Fluminense (1978), mestrado em História pela Universidade Federal Fluminense (1985) e doutorado em Filosofia pela Université de Paris (1992). Atualmente é funcionário da Universidade Federal Fluminense. Tem experiência na área de História com ênfase em Teoria e Filosofia da História. Atuando principalmente nos seguintes temas: democracia, revolução, Pensamento político brasileiro.
As autoras se propõem a discutir o longo caminho percorrido, bem como o significado real de cada fato, até 1985, ano que segundo elas, teve um papel chave no desenrolar da história recentíssima do Brasil. Ainda segundo elas, 1985, assinala em teoria a tão propalada “transição democrática”, no sentido da restauração da ordem institucional e de retorno dos militares aos quartéis.
Apresentam o golpe de 64, como significando uma ruptura política com o populismo e o aprofundamento das tendências econômicas preexistentes, fornecem a moldura para algumas transformações expressivas na sociedade e no rumo do capitalismo brasileiro. O período estudado nessa obra é caracterizado, segundo Mendonça e Fontes, pela crescente participação do estudo na economia e pela ampliação das atribuições do executivo em detrimento nos demais poderes e canais de representações políticas. Nesse período também houve um aprofundamento da interdependência entre o político e o econômico, por conta do papel do estado na gestão da produção e do sistema financeiro, como elemento básico da articulação entre os diversos setores.
Sônia Regina de Mendonça e Virgínia Maria Fontes, mostra ao longo da obra como a combinação de uma conjuntura repressiva internacional, com a exaustão de uma classe trabalhadora vitimada por anos de arrocho e o acúmulo das contradições do modelo praticado, inaugurariam a crise brasileira por volta de 1974. As ambigüidades desse processo, bem como sua relação com a nossa realidade cotidiana, são também objetivos das autoras. Tentam responder a sua hipótese de que a abertura política viria a se constituir em “moeda de troca” ou da opção pela recessão.
No capítulo II, as autoras discutiram os antecedentes do golpe de 1964, mostrando um quadro político econômico e social de 61-64. As disputas partidárias, a polêmica entre executivo e legislativo, as lutas sindicais, as manifestações, a inflação e as conspirações que revelam a estreita relação entre todos esses elementos a sua importância para o desfecho militar. No terceiro capítulo, Mendonça e Fontes debatem acerca do milagre econômico e suas bases. Para elas o favorecimento das grandes empresas era o seu objetivo, o arrocho salarial, sua estratégia, o combate à inflação, sua justificativa legitimadora. Essas são as bases do que veio a ser o milagre econômico. Também debatem a intervenção do estado nos sindicatos, à subordinação dos trabalhadores, as manifestações reacionárias dos trabalhadores e sua repressão violenta, os empréstimos internacionais e o endividamento. No quarto capítulo, Mendonça e Fontes discutem o problema da legitimidade do regime militar numa situação de coexistência de uma ordem legal e uma ordem de exceção, seus desdobramentos e seus aspectos. No capítulo V, discutem a crise dos anos 70 e o fim do milagre. Para elas a crise do petróleo de 1973, funcionou como álibe perfeito para uma situação de duplo impasse que o país atravessava. Por um lado o milagre dava seus primeiros sinais de esgotamento em decorrência das inúmeras contradições internas. Por outro, a queda das elevadas taxas do crescimento econômico retirava do regime político o precário “chão” de legitimidade popular que buscava mobilizar. No capítulo VI falam sobre a mobilização popular e as revoltas, o renascimento do movimento sindical como legitimadores de suas ações. O ressurgimento do espaço político partidário e a articulação das oposições, o surgimento de novos partidos como: PP, PTB, PDT, PT. Por fim insistem que o golpe de 64 não correspondeu em nenhuma mudança estrutural no país, e que a crise econômica, a crise de legitimidade e os movimentos de massa deram a tônica à chamada abertura.
Mendonça e Fontes se utilizam de diversos outros autores para realizar sua obra. O tempo todo, elas procuram dialogar com esses autores, que deram grande contribuição para esse livro. Dentre esses autores destacaremos: René Armand Dreifuss, Kenneth P. Erickson e Paulo Krischke.
Dreifuss, em sua obra “A Conquista do Estado”, faz uma abordagem inovadora de 64, como articulação política entre tecno-empresário, militares e multinacionais, virando o assalto ao poder. Mendonça e Fontes fazem uma abordagem semelhante, mostrando a importância dos empresários e o domínio econômico das multinacionais durante esse período. Erickson, em sua obra, “Sindicalismo no Processo Político no Brasil”, trata das relações sindicalistas do estado desde a década de1930, ganhando tom analítico mais acurado ao discuti-las no período pós-64, dando ênfase à política trabalhista e salarial. Em História do Brasil Recente, as autoras semelhantemente abordam a política trabalhista e salarial dos militares, a intervenção do estado nos sindicatos e a luta dos trabalhadores.
Krischke, em “Brasil: do Milagre à Abertura”, abrange as diversas temáticas no domínio econômico, político e social, no pós-64. Mendonça e Fontes também fazem essa análise em sua obra.
O livro contém 85 páginas, divididas em nove capítulos, incluindo introdução, conclusão, vocabulário crítico e bibliografia. Os capítulos estão subdivididos em tópicos.
O livro possui uma linguagem simples e objetiva, utilizando uma bibliografia ampla e diversificada. Também utilizam vários quadros e tabelas que ajudam na compreensão dos aspectos econômicos, políticos e sociais do período que se propuseram a estudar. Esses recursos foram utilizados pelas autoras em sua fundamentação teórica, para provar a sua tese, justificar seus pressupostos e resolver a problemática proposta.
Em minha opinião, o tema e o período que as autoras se propuseram a estudar, foi bem debatido e esclarecido, contribuindo muito para a história. O livro esclarece vários aspectos políticos, econômicos e sociais do período, que é de extrema relevância para o estudo da nossa história recente. No entanto eu acho que o livro é um pouco reduzido em argumentos, pois alguns tópicos como as lutas sindicais e a questão dos trabalhadores, entre outros, mereceriam um número bem maior de páginas para um maior aprofundamento da questão, mas compreendo que não é esse o objetivo das autoras. Indicaria o livro para alunos de história do nível médio e superior, e também para antropólogos, sociólogos e pesquisadores em geral que pretendam conhecer as questões políticas, econômicas e sociais do período.


Referência:
• MENDONÇA, Sônia Regina de. FONTES, Virgínia Maria. “História do Brasil Recente: 1964-1980”. São Paulo. Ática.

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