sábado, 26 de janeiro de 2008

Resenha - Dom Obá - por Vieira

Eduardo Silva nasceu em 1948, no Rio de Janeiro. É pesquisador e chefe do Departamento de Historia da Fundação Casa Rui Barbosa, no Rio de Janeiro. É doutor em História pela University Colleg London, na Inglaterra. É também autor das obras: Camélia do Leblon e a Abolição da Escravatura e negociação e conflito, obras também publicadas pela editora Companhia da Letras.
Segundo palavras do próprio autor, esse livro procura recuperar aspectos do cotidiano, ambiência cultural e universo simbólico prevalecentes entre escravos, libertos e homens livres de cor no Brasil do século XIX, através de um estudo de caso da vida e pensamento do auto intitulado, Dom Obá II d’África, um tipo de rua que viveu no Rio de Janeiro nas últimas décadas da escravidão e do império.
Quem foi Dom Obá? O que representou? Porque provocava tantas reações contraditórias? Nessa obra Eduardo Silva, procura responder estas perguntas utilizando diversos documentos. O objetivo de Eduardo Silva é estudar um homem como individualidade pensante, e ao mesmo tempo como via de penetração em uma elusiva cultura popular ou mentalidade coletiva do século XIX. Através da individualidade vislumbrar a cultura e a sociedade em que viveu Dom Obá, um mundo ainda habitado por senhores, escravos, libertos e homens livres de cor.
Eduardo Silva começa fazendo um relato do sertão nordestino, principalmente da Bahia, baseado em relatos dos alemães Johann Von Spix e Karl Von Martius. Em seguida fala sobre lençóis, no interior da Bahia, Município onde nasceu Cândido da Fonseca Galvão, desde quando era uma pequena vila até quando se tornou uma das principais cidades baianas, por conta do descobrimento das minas de ouro e do conseqüente aumento da população. Filho de Benvindo da Fonseca Galvão, escravo alforriado, Cândido nasceu livre. Em1865, devido a Guerra do Paraguai Obá se alistou no exército. Silva dá uma visão de como se deu esse alistamento dos “voluntários à corda”, e de muitos que se alistavam para ter cama e comida. Mas o nosso personagem foi realmente um voluntário.
No exército foi promovido a Sargento e depois a Alfeire (oficial). Dessa forma lutou na guerra do Paraguai bravamente, até ser impedido de lutar por causa de um ferimento na mão. Silva faz outro belo relato, trazendo até detalhes de algumas batalhas da referida guerra.
De volta ao Brasil, o Alfeire Galvão volta à Bahia, de onde envia diversos requerimentos ao Imperador pedindo para ser considerado Alfeire do exército. Galvão passou pouco tempo na Bahia por conta da crise de economia nordestina, crise essa que Silva, também discute em sua obra, mostrando a questão da crise algodoeira, do café e outros. O Alfeire Galvão parte para o Rio de Janeiro em 1877, juntamente com diversos outros personagens anônimos. Anônimos como Getúlio Marinho, Tia Ciata de Exun, Tia Anália, dentre outros personagens que Silva utilizava para reconstruir aspectos do cotidiano da vida no Rio de Janeiro. Silva faz um relato social, política e econômico do Rio de Janeiro do final do século XIX. Explora a questão dos transportes moradia, carestia, impostos e da migração de europeus ou chineses para suprir a escassez de mão-de-obra negra por causa da proibição do tráfico negreiro.
Nesse contexto Eduardo Silva, mostra o interesse de Obá pela política e pelas questões sociais. Como ele tinha acesso ao Imperador e as reuniões do palácio, como pagava para ter publicado seus artigos, como participava das manifestações sociais e de onde vinha as idéias e os conhecimentos, do homem que passou a ser conhecido pela imprensa, pelo seu povo e alguns famosos da nossa história como Dom Obá II d’ África.
A obra de Eduardo Silva não é a primeira a ser realizada nessa temática. Trabalhos semelhantes fizeram Ginzburg Dearnton, com quem Silva mantém um diálogo constante. Carlos Ginzburg em “O queijo e os vermes”, procura estudar as idéias, sentimentais, fantasias e aspirações de um moleiro friulano, chamado Domenico Scandela, como via de acesso às mentalidades coletivas do século XVI, italiano. Robert Darnton em “O grande massacre de gatos”, procura revelar muito ousadamente um ingrediente fundamental da cultura artesanal do ancien regime francês, através da velha narrativa de um massacre de gatos executado com grande jocosidade por aprendizes e operários gráficos de uma oficina parisiense nas idas de 1970.
O livro Dom Obá II d’África, O Príncipe do Povo: vida tempo e pensamento de um homem livre de cor, do historiador, Eduardo Silva está dessa forma estruturado. Possui 262 páginas, divididas em prefácio, introdução, oito capítulos que estão subdivididos em tópicos, conclusão, apêndices, notas, bibliografia, crédito das ilustrações e índices onosmático.
Nos primeiros quatro capítulos, o livro reconstrói a vida de Dom Obá tão completamente quanto possível, tendo em vista a natureza fragmentária da documentação. Os dois capítulos seguintes 5 e 6 constituem uma investigação sobre a natureza de suas relações com o Imperador do Brasil, Dom Pedro II, por um lado, e , por outro, sobre a extensão e natureza de sua liderança dentro de seu próprio reino, a “África Pequena” do Rio de Janeiro. O capítulo 7 lida com o quadro geral das idéias de Dom Obá , em particular com o seu pensamento sobre as grandes questões políticas e sociais do seu tempo, o processo de abolição da escravatura e as relações inter-raciais. O último capítulo é uma discussão sobre as fontes do pensamento de Dom Obá e as influências nele presentes, seus pressupostos básicos,universo simbólico e visão da história.
Para realizar essa obra Eduardo Silva se utilizou de uma bibliografia ampla e diversificada. Utilizou várias obras de autores brasileiros e estrangeiros, como Robert Slenes, Russel wood, Maria Isaura Pereira de Queiroz, Gilberto Freire etc. Pesquisou em vários arquivos, como o arquivo nacional, arquivo do exército, arquivo público da Bahia entre outros, onde estudou diversos documentos. Como fontes impressas, utilizou-se dos artigos de Dom Obá II d’Àfrica, publicado na época, de cartas de apoio a Dom Obá, também publicado em jornais da época, alguns trabalhos contemporâneos e outros documentos, além de visitas a museus utiliza ainda mapas e fotos ilustrativas para facilitar a compreensão. Esses recursos foram utilizados pelo autor em sua fundamentação teórica para provar as suas teses, justificar seus pressupostos e resolver a problemática proposta. Para isso ele utilizou uma linguagem simples, direta e compreensível, facilitando a leitura.
De acordo com a investigação feita pelo autor em livros, em documentos que se propôs a estudar, eu acho que o resultado foi muito positivo, uma vez que cumpriu o objetivo a que se propôs. O livro esclarece diversos aspectos do Brasil do século XIX, que são imprescindíveis para a compreensão da nossa História. Porém alguns desses aspectos, como a crise da economia do exército, a guerra do Paraguai e outros são discutidos muito superficialmente. S abemos que para estudar aprofundadamente esses aspectos é necessário um livro para cada um deles. Mais entendo que não é esse o objetivo dele. Eu indicaria a obra para alunos de História do ensino superior e médio, por ser esclarecedor em vários aspectos da nossa História. Para sociólogo, antropólogo e o público em geral interessado em boa leitura e em História do Brasil.



Referência:

SILVA, Eduardo; Dom Obá II d’África, O Príncipe do Povo:vida, tempo e pensamento de um homem livre de cor. 1º ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. 262 p. m discute em sua obra, mostrando a questda crise de econ Imperador pedindo para ser considerado Alfeire do exercito

Um comentário:

Anônimo disse...

muito boa a resenha,valeu mesmo, com certeza ela me ajudará muito viu, valeu car.