sábado, 26 de janeiro de 2008

Resenha do Filme Quanto Vale ou Por Quilo - por Vieira

Sérgio Bianchi nasceu no Paraná em 24 de novembro de 1945. Estudou comunicação e arte na USP, onde foi aluno de grandes nomes do cinema nacional como Paulo Emílio Sales gomes e Jean Claude-Bernadete. Foi assistente de direção de vários filmes, escreveu críticas de cinema para a folha de SP, realizou exposição de fotografia. Ao longo de sua carreira Bianchi dirigiu quatro curtas ( O ônibus, 1972; A segunda besta, 1977; Divina providência, 1983; Entojo,1984) e uma média metragem ( Mato eles?) que foram bem aceita pela crítica. Mas foram os longos metragens, Malditas coincidência (1979), Romance (1989) e a Causa secreta (1994) que caracterizaram o cineasta como polêmico e crítico da nossa sociedade vigente.
Com seus filmes Sérgio Bianchi ganhou vários prêmios nacionais e internacionais como melhor diretor, melhor filme e melhor roteiro em festivais de cinema na Itália, México, Argentina, RJ, PR, SP, Brasília, Gramados e outros. Romance, Causa secreta e cronicamente inviável foram seus trabalhos mais premiados.
Quanto vale ou é por quilo é um filme de Sérgio Bianchi. Uma livre adaptação do conto “Pai contra mãe” de Marchado de Assis, entremeando com pequenas crônicas de Nireu Cavalcanti sobre a escravidão, extraídas do arquivo nacional do RJ. O filme está dividido em subtítulos, com cenas que, geralmente, fecham um significado, um sentido. Revela as mazelas e contradições de um país em constante crise de valores. Bianchi costura dois recortes: o século XVIII, com a expansão do comércio de escravos e a relação social entre senhores e escravos; e os tempos atuais com sua exclusão social, focando um comércio de gente explorado por empresas e ONGs. Em outras palavras, Bianchi faz uma analogia entre o antigo comércio de escravos e a exploração da miséria pelo marketing social. O filme fala da degradação do ser humano, como as pessoas com a máscara da bondade se aproveita da miséria dos outros. Também é uma denúncia sobre a beneficência feita no Brasil. Bianchi se utiliza da ironia para relatar a situação social no Brasil e faz uma crítica à forma que o governo tenta resolver os problemas sociais. Ao invés de oferecer oportunidades, constrói mais presídios para os explorados importunadores.
Trata-se de um drama, lançado em 2005, dirigido por Sérgio Bianchi e produzido por Agravo produções cinematográficas S/C Ltda – SP- Brasil. Argumentos e roteiro de Sérgio Bianchi, Eduardo Benain e Newton Canitto. Montagem de Paulo Sacramento e produção de Paulo Galvão. O filme teve como intérpretes: Lázaro Ramos, Ana Lúcia Terra, Caco Ciocler, Cláudia Mello, Lena Roque, Leona Cavalli e Silvio Guindane. Os principais patrocinadores foram a Petrobrás, a prefeitura do RJ, o BNDES, a Eletrobrás, os Correios e outros.
O filme pode ser visto como uma análise de alguns aspectos da sociedade brasileira a partir dos métodos dominadores e de alienação do rico sobre o pobre. Não propõe solução pois não é esse o objetivo do diretor. O filme não é moralista, por isso não toma partido do certo e do errado. Mostra o favor como um investimento retornável e a idéia da ONG como um grande negócio lucrativo. Mostra as Relações sociais e interpessoais profundamente definida por relações econômicas, daí o nome do filme. Assim como os escravos eram mercadorias do séc. XVI ao XIX, os descendentes de escravos, incluindo brancos, formam uma matéria prima de miseráveis, pobres e excluídos que hoje viraram mercadoria para ser explorada.
O filme não apresenta perspectiva, a revanche está no fato de o explorado querer que o explorador também sofra. Mostra a lei sempre a favor dos ricos e poderosos. O seqüestro aparece como um grito de desespero de uma sociedade que não sabe como fugir de tanta exploração. Bianchi apresenta o capitão do mato como vivo, ativo e servindo, forçado pela situação social, aos desmandos dos grandes senhores de hoje. Alguns críticos vêem Sérgio Bianchi como um diretor que se acha superior a sua obra, como se só ele conseguisse enxergar os problemas sociais. Outros o ver como um tipo de consciência persimista da sociedade, que não oferece nenhum tipo de solução. Mas a maioria dos críticos vêem com bons olhos suas obras e, acham que enquanto alguns diretores apresentam o Brasil como um país alegre e democrático, Bianchi o ver como preconceituoso e elitista.
Comparando o filme Quanto vale ou é por quilo com outras obras do próprio diretor, como o filme, cronicamente inviável, que apresenta um discurso crítico e virulento, onde Bianchi aborda temas como a prostituição masculina, corrupção, tráfico de drogas, conflitos de terra, destruição ambiental e criminalidade urbana. Podemos perceber que em “Quanto vale ou é por quilo” o diretor mantém seu estilo de criticar a sociedade brasileira, mostrando de forma “nua e crua” algumas verdades que são escondidas ou mascaradas por outros.
O filme pode ser indicado para alunos de história, geografia, sociologia, antropologia, ciências sociais e diversos outros cursos superiores e médio, e até mesmo ao público em geral, que queira conhecer um pouco mais da nossa sociedade, por conter o filme aspectos da sociedade brasileira que não estão explícitos e são desmascarados escancaradamente, mostrando as facetas dos exploradores do comércio da pobreza.





Referências:


· Quanto Vale ou é Por Quilo. Direção: Sérgio Bianchi. Produção: Paulo Galvão. Interpretes: Lázaro Ramos, Ana Lúcia Terra, Caco Ciocler, Claudia Mello, Lena Roque, Leona Cavalli, Sílvio Guindane. Roteiro: Sérgio Bianchi, Eduardo Renain e Newton Canitto. Produtora: Agravo Produções Cinematográficas. 2005, 1 DVD, som, cor.

· Site: http:www.quantovaleoueporquilo.com.br. Acesso em 10 e 18 de junho de 2006.

Além do Bem e do Mal, Aforismo e Interlúdio - por Anselmo Vieira

Quarta Parte
Aforismos e Interlúdios

Nesse capitulo, Nietzsche apresenta algumas sentenças morais, breve e conceituosas, que ele considera como sendo máxima, são considerações da mente dele. Esse capítulo é semelhante ao livro bíblico de provérbios. Separamos alguns aforismos que se referem a um certo objeto, e apresentaremos a seguir. Aforismos que se refere:
Ao conhecimento.
“A atração exercida pelo conhecimento seria bastante fraca, se para atingi-lo não fosse preciso vencer tantos pudores”.
A Deus.
“Somos mais desonestos para com Deus: pretendemos que ele não possa nem deva pecar”.
“O amor por um único ser é barbárie: porque acontece em detrimento de todos os outros seres. Mesmo o amor de Deus”.
Aos intelectuais.
“Um homem dotado de gênio é insuportável se, além disso, não tem pelo menos duas outras qualidades: a gratidão e a polidez”.
“Não a potência, mas a duração de um sentimento elevado forma os homens superiores”.
À consciência.
“Quando se amestra a própria consciência, esta acaricia ao mesmo tempo em que morde”.
“Eu fiz isto, me diz a memória, não posso tê-lo feito, sustém o meu orgulho que é inexorável. Finalmente cede a memória”.
A verdade.
“É uma coisa terrível morrer de sede em meio ao mar. É realmente necessário que se ponha tanto sal na nossa verdade ao ponto de torná-la incapaz de satisfazer à sede”.
À mulher.
“Á mulher aprende a odiar na medida em que deixa de fascinar”.
“Na vingança e no amor a mulher é mais cruel que o homem”.
À moral.
“Envergonha-se da própria imoralidade é um degrau da escada no extremo do qual se sentirá vergonha da própria moralidade”.
À religião.
“O cristianismo perverteu a Eros, este não morreu, mas degenerou-se, tornou-se vício”.

Quinta Parte
Pela História Natural da Moral

O sentimento moral é presentemente na Europa, tão fino tardio, múltiplo, irritável, refinado, quanto à ciência moral é ainda jovem, principiante, entorpecida e grosseira. Nietzsche dizia que os filósofos queriam estabelecer os fundamentos da moral e eles acreditavam firmemente que tinham conseguido estabelecer este fundamento, mas para esses filósofos, dizia Nietzsche, a moral era encarada por ele como coisa dada. Esses moralistas conhecem de forma grosseira a moralidade, através de uma abreviação casual. Para Nietzsche, o que eles conheciam era a moral de sua classe, sua igreja, seu ambiente, do tempo em que vivem. Por isso jamais tiveram face a face com os verdadeiros problemas da moral. Para ele, na “ciência da moral”, faltava o problema da moral, e ele suspeitava até da existência de algum problema. Para Nietzsche os mestres dessa ciência falavam como criança e moçoilas.
A moral cristã se caracteriza pela moral do rebanho, em que os indivíduos se deixam levar pela maioria e seguem os ensinamentos da moral tradicional de forma acrítica. É também a moral do “homem do ressentimento”, que assume a culpa e o pecado como características de sua natureza e por isso reprime seus impulsos vitais, sua vontade, sua criatividade, em nome da submissão à autoridade da religião e, por extensão, do Estado e das instituições em geral. Essa é, segundo Nietzsche, a “moral dos fracos”, que consegue se impor aos fortes exatamente através do recurso à culpa e ao remorso inculcados pela tradição em todos os indivíduos
Segundo Nietzsche, existem morais que tem como função justificar seus autores aos olhos dos outros, outras de torná-los satisfeito, outras como vingança, outras servem como esconderijo ou ainda para exaltar a si mesmo. Algumas vezes a moral serve ao seu autor para mentir. Dessa forma, conclui que, as morais nada mais são que a linguagem figurada das paixões.
Nietzsche achava que os moralistas pareciam sentir medo dos homens dos trópicos, pois esses moralistas diziam que esses homens deviam ser desacreditados, e apresentava-os como forma degenerada e mórbida dos homens. A esse pensamento dos moralistas, Nietzsche chamava de “a moral sob a forma do medo”, e que esse pensamento sobre a moral não pode ser chamado de ciência e sim de imbecilidade.
Alguns moralistas se utilizavam da moral para manter o domínio sobre o seu rebanho, fazendo-se passar pelos executores de mandatos antigos e supremo( os dos antepassados, os da constituição, os de Deus) ou recolhem fórmulas gregárias da mentalidade do rebanho e se oferecem como primeiro servidor do estado ou como instrumento do bem público. A esse pensamento Nietzsche chama de “A hipocrisia moral dos dominadores”. Para Nietzsche a moral na Europa era uma moral de rebanho que chegava sempre a mesma conclusão: “a única moral sou eu e não há outra além de mim”.

Sexta Parte
Nós os Doutos

Nietzsche fala que a emancipação da ciência da filosofia é uns dos efeitos mais delicados da ordem e da desordem da democracia, e que depois de se defender com sucesso da teologia, da qual longamente foi serva, agora em sua audácia e irracionalidade quer ditar leis a filosofia e ser sua patroa. Ele se opõe a isso, que ele chama de inconveniente desnivelamento entre a ciência e a filosofia.
A ciência está em plena floração e demonstra sinceramente a boa fé com que está animada. Já a filosofia, para ele, é uma filosofia que gera desconfiança, menosprezo ou compaixão. Filosofia reduzida a “teoria do conhecimento” ou para ele “teoria da abstinência”. Uma filosofia agonizante, algo que provoca piedade, frente a isso Nietzsche pergunta: Como tal filosofia pode dominar?
Na visão dele, faz um relato do que é um homem de ciência, que para ele, não sabe qual é a função do homem. O homem de ciência é uma espécie sem nobreza, não dominante, não exerce autoridade nem mesmo suficiente a si mesmo. Apesar disso possuem paciência de classificar e ordenar as coisas, a laboriosidade.
Para Nietzsche, o homem objetivo é o douto “ideal”, cujo instinto cientifico, depois de inúmeras tentativas, conseguiu com grande risco surgir e desenvolver-se, esses homens estão entre os instrumentos preciosos mais difíceis de encontrar. Esses homens são instrumentos, espelhos, que necessitam ser manejados por um braço forte.
O filósofo do futuro deve ter a qualidade profunda que distingue o crítico do cético. Devem ter disciplina critica e tudo que possa habituar a um pensar puro e rigoroso. Apesar disso não vão querer ser chamados de críticos, pois os críticos são instrumentos do filósofo e estão longe de serem filósofos.
Nietzsche insiste em distinguir o homem de ciência que ele chama de operários filosóficos do verdadeiro filósofo. Para ele o homem de ciência é servo do filósofo. Aos operários compete a função de tornar claro, inteligível, palpável todos acontecimentos, estabelecer existência de fatos e certas apreciações de valores que com o tempo se tornarão dominantes, seja no reino da lógica, da política (moral) ou da arte. Já o verdadeiro filósofo são dominadores e legisladores, preestabelem o caminho e a meta do homem, e para isso se utiliza do trabalho dos operários da filosofia. O seu conhecer equivale a um criar, o seu criar a uma legislação, o seu querer a verdade, ao querer o domínio. Existem filósofos assim? Já existiram filósofos assim? Não seria bom que existissem filósofos assim? Pergunta Nietzsche.

Aula Sobre Racismo Para 5ª Série - por Vieira

O que é racismo

O racismo é a tendência do pensamento, ou do modo de pensar em que se dá grande importância à noção da existência de raças humanas distintas e superiores umas às outras. Onde existe a convicção de que alguns indivíduos e sua relação entre características físicas hereditárias, e determinados traços de caráter e inteligência ou manifestações culturais, são superiores a outros. A crença da existência de raças superiores e inferiores foi utilizada muitas vezes para justificar a escravidão, o domínio de determinados povos por outros, e os genocídios que ocorreram durante toda a história da humanidade.
Apartheid na África do sul
Apartheid ("vida separada") é uma palavra de origem africana, adotada legalmente em 1948 na África do Sul para designar um regime segundo o qual os brancos detinham o poder e os povos restantes eram obrigados a viver separadamente O apartheid foi implantado por lei. As restrições a seguir não foram apenas sociais mas, eram obrigatórias pela força da lei. Não-brancos eram excluídos do governo nacional e não podiam votar. Aos negros eram proibidos diversos empregos. Os negros que eram 70% da população foram excluídos de tudo, a não ser que eles tivessem um passe que era impossível para a maioria conseguir. A implantação desta política resultou no confisco da propriedade e remoção forçada de milhões de negros. A terra conferida aos negros era muito pobre. As áreas de negros raramente tinham saneamento ou eletricidade. Os hospitais eram segregados, sendo os destinados a brancos capazes de fazer frente a qualquer um do mundo ocidental e os destinados a negros, comparativamente, tinham séria falta de pessoal e fundos. Uma ambulância "branca" não levaria um negro ao hospital. Ambulâncias para negros tipicamente continham pouco ou nenhum equipamento médico. Nos anos 1970 a educação de cada criança negra custava ao estado apenas um décimo de cada criança branca. Educação superior era praticamente impossível para a maioria dos negros. Além disso, a educação provida aos negros os direcionavam para os trabalhos braçais disponíveis para eles. Trens e ônibus eram segregados. Trens para brancos não tinham vagões de terceira classe, enquanto trens para negros eram superlotados e apresentavam apenas vagões de terceira classe. Ônibus de negros paravam apenas em paradas de negros e os de brancos, nas de brancos. As praias eram separadas, as melhores eram reservadas para brancos. Piscinas públicas, bibliotecas, parques, cinemas, campos para esportes não existia nas áreas negras. Sexo inter-racial era proibido. Policiais negros não tinham permissão para prender os brancos. Um negro poderia estar sujeito à pena de morte por estuprar uma branca, mas um branco que estuprasse uma negra recebia apenas uma multa, e quase sempre nem isso. Um branco que entrasse em uma loja seria atendido primeiro, à frente de negros que já estavam na fila, independente da idade ou qualquer outro fator. Até os anos 1980, dos negros sempre se esperaria que descessem da calçada para dar passagem a qualquer pedestre branco. Este regime foi abolido por Frederik de Klerk em 1990 e, finalmente em 1994 eleições livres foram realizadas
Holocausto
Extermínio de milhões de judeus e outros grupos considerados indesejados pelo regime nazista de Adolf Hitler. A maior parte dos exterminados eram judeus, mas também haviam militantes comunistas, homossexuais, ciganos, eslavos, deficientes motores, deficientes mentais, testemunhas de Jeová, alguns sacerdotes católicos, sindicalistas e criminosos de delito comum. O número exacto de mortes durante essa passagem é desconhecido. Mas segundo alguns especialistas estima-se que o número de pessoas desaparecidas, mortas ou assassinados durante o conflito somam cerca de seis milhões de pessoas.
O que é preconceito

Como o nome já diz é o pré-conceito, ou seja, uma opinião formada antes de se ter os conhecimentos adequados.

Tipos de preconceito

Preconceito à outra religião - Hoje em dia, o maior exemplo deste preconceito são os conflitos no Oriente Médio. A luta entre judeus e islâmicos custa dezenas de vidas diariamente. Grupos extremistas no Iraque matam inocentes cruelmente somente porque são de outra religião.
Preconceito contra as mulheres - É denominado de machismo e existe por causa do antigo papel das mulheres como dona de casa. O machismo gera muita mágoa porque vários homens não reconhecem a capacidade das mulheres de fazerem algo diferente a costurar e cozinhar.
Preconceito quanto à classe social – Ricos e pobres discriminam pessoas de baixa classe social.
Preconceito contra pessoas de outra orientação sexual - Homossexuais e bissexuais são muito agredidos moralmente e até fisicamente só por não serem "iguais". É uma triste realidade, tanto que vários escondem sua preferência sexual.
Preconceito contra pessoas de outra nacionalidade - A maioria dos brasileiros critica os norte-americanos, apesar de estar sempre os imitando. Brasileiros sofrem de preconceito em outros países, assim como muitos estrangeiros são discriminados no Brasil, um exemplo disso é as piadas com portugueses e paraguaios








Fileiras de corpos enchem o campo de concentração de Nordhausende, Alemanha, 4 de Dezembro de 1945.

Artigo A Barbárie Moderna - por Vieira


No Iraque, insurgentes degolam civis e soldados norte-americanos humilham prisioneiros iraquianos. Em Madri, terroristas explodem trens que transportavam trabalhadores numa manhã ao se dirigirem para o trabalho. Em Israel, ônibus lotados de civis são explodidos por homens-bombas. Na Rússia, uma escola é transformada em campo de concentração e matadouro de crianças nos moldes nazistas. Em vários lugares da África, a população é obrigada a morrer de fome, ou pelo facão do grupo rival. No Brasil, moradores de rua, indefesos, são covardemente mortos a pauladas. Em Sergipe crianças morrem a espera de cirurgia cardíaca.
No presente artigo, tentaremos mostrar que a barbárie não está tão distante de nós, faz parte do nosso dia a dia, e mesmo sem perceber praticamos a barbárie. Apesar de falar a respeito dos maiores atos de barbárie praticados pela humanidade, daremos ênfase à barbárie moderna, tanto a explícita como a simulada. Demonstraremos também que os atos de barbárie não são vistos como tais pelos seus autores, e que por isso estamos vivendo um processo de barbarização da sociedade. Por último indicaremos a educação como necessária para evitar esse processo de barbarização. Porém, antes de tudo se faz necessário explicar a palavra barbárie.
A palavra ‘barbárie’ originalmente foi empregada pela mentalidade eurocêntrica, que se considerava o exemplo de organização social civilizada. Foi Vico [1638-1744] que cunhou de ‘barbárie’ o estado primitivo ou selvagem de indivíduos ou grupos que não teriam evoluído rumo ao estado de homem ocidental civilizado. A barbárie passou a se opor ao humanismo, ou seja, é um ato considerado ‘desumano’ porque não respeita os fundamentais valores conquistados no campo da ética, do direito, da ciência, da democracia pluralista e da própria organização social. No século 20, o termo ‘barbárie’ sofreu uma virada de sentido com as pesquisas antropológicas que reconheceram que as demais culturas humanas não brancas, também eram dotadas de organização social racional, tinham valores e preceitos morais próprios, portanto, eram civilizadas. Essa virada, com C. Lévi-Strauss, chegou-se ao extremo de considerar que bárbaro autêntico é aquele que apenas denuncia a barbárie do vizinho e não se dá conta de reconhecer sua própria barbárie. Todavia, nos dias de hoje, no início do terceiro milênio, a palavra ‘barbárie’ passou a significar o sentido originalmente negativo; passou a ser empregada para caracterizar um ato criminoso, cujos requintes de perversidade, até então impensável, representam um retrocesso no processo civilizatório. Quando iraquianos dançaram em volta de corpos de soltados norte-americanos queimados e pendurados em postes, logo, foram considerados pela mídia de bárbaros, é inegavelmente uma barbárie nascida na civilização branca ocidental.
Porém, nesse artigo, entenderemos por barbárie, todo e qualquer ato ou omissão considerada desumana. Esclarecendo, barbárie, aqui, abrange desde os holocaustos praticados pelos nazistas contra os judeus, e pelos americanos contra os japoneses em Hiroshima, passando pelos assassinatos mais cruéis, até os crimes considerados mais simples. Mas, daremos ênfase à barbárie moderna. Nesse sentido, a barbárie consegue maior visibilidade quando o crime de morte aparece em grandes proporções, numa forma antes impensável e surpreendente, obtendo imediato destaque de espetáculo na mídia. Assim, os assassinatos dos moradores de rua de São Paulo e Belo Horizonte são considerados atos de barbárie, a matança de crianças são atos de barbárie. Pessoas que morrem de fome ao nosso lado, enquanto nos omitimos, é um ato de barbárie
Todos os dias, em todos os instantes podemos observar a barbárie. Basta ligar a televisão para ouvir as notícias sobre política, economia e o social; ou ir ao centro de Aracaju e de outras capitais para ver a fome nas ruas, a miséria estampada no rosto das crianças pedintes e a omissão das pessoas que passam alheias ao sofrimento dos seus próximos. Os políticos aprovam leis para se beneficiar, desviam quantias exorbitantes e forjam CPIs, para serem inocentados. Enquanto isso a segurança, a educação, a saúde e o social em geral estão entregues ao deus dará. Essa semana em Aracaju, um homem degolou sua esposa com um facão e depois se matou. Em São Paulo, pessoas morreram no acidente previsto da construção do metrô. O mais incrível é que essas pessoas mortas são consideradas simples obstáculos e vítimas necessárias para a finalização da obra.
Babás espancam crianças com Síndrome de Daw, mães abandonam filhos nas ruas ou os jogam em lagos, filhos matam pais para receber a herança, mulheres, crianças indefesas (um mês) e idosos são estuprados, a fome se alastra e a omissão cresce. Estaríamos hoje vivendo um processo de barbarização em todos os setores da sociedade? A falta de respeito para com o próximo, a falta de vergonha, a atitude dogmática e esclerosada do pensamento, a recusa em reexaminar as posições conservadoras, a indiferença para com o sofrimento dos outros, a incapacidade de identificação com os diferentes, os chamados crimes de ódio, os atos amoucos cada vez mais freqüentes, a crença de que somente a “lei do cão” é capaz de consertar o mundo injusto e desigual, são alguns dos sintomas de barbárie do nosso cotidiano.
Aquele que comete qualquer ato bárbaro jamais se identifica como sujeito de seu ato monstruoso. E, jamais se identifica com suas vítimas. tanto os chefes nazistas como os chefes que comandaram as atrocidades de Camboja, de Sarajevo, em Ruanda, etc. Não se identificam com suas vítimas e seu desespero. E, nunca assumem seu ato como monstruoso, isto é, quanto mais absurdo e cruel é caracterizado o crime cometido maior é a negação do criminoso. Da mesma forma, hoje não achamos que é barbárie observar as pessoas passando fome, um trabalhador ganhar 100.00R$, por um mês inteiro de trabalho, crianças vagarem nas ruas em busca de comida, sendo mal tratadas pelas pessoas que passam. São esses episódios que acontecem rotineiramente que chamamos de barbárie moderna simulada.
O autor alemão, Adorno, considera a falência da cultura e da educação a “razão objetiva da barbárie”, para ele a barbárie se autoriza numa sociedade onde a cultura e a educação deixa de ser prioridade tanto do governo como da sociedade civil. Da mesma forma entendemos que a educação, mais especificamente, o ‘ensino’, quando investem na manutenção das conquistas humanas fundadas no conhecimento dialógico, pode contribuir para evitar prevenir a metástase da barbárie no todo da sociedade. Porém, o conhecimento científico, a idéia de progresso, e a razão prática, não garantem evitar que a civilização se sustente.
O grande perigo da barbárie hoje é ter pretensões apocalípticas de destruição da humanidade e do próprio planeta. Entretanto, há otimistas – que bom que eles ainda existem - que entendem que nossa dimensão demasiadamente humana pode ser educada e transformada em desejo canalizado em prol da cultura, da linguagem dialógica e da construção de uma verdadeira civilização dotada, sobretudo de sabedoria.

Referências:
· LIMA, De Raimundo. “É Barbárie, Genocídio, Holocausto ou Massacre”. Espaço Acadêmico. São Paulo, vol.45, fevereiro de 2005. www. Revistaespaçoacademico.com. acesso em 15-01-07.
· DA SILVA, Antônio Ozai. “Educar Contra a Barbárie”. Espaço Acadêmico. São Paulo. Vol. 39, agosto de 2004. www. Revistaespaçoacademico.com. acesso em 15-01-07.
· Textos indicados pelo professor Rui Belém

Aracaju,Saúde PúblicaX Educação - por Vieira

SUMÁRIO





1 – INTRODUÇÃO..................................................................................02
2 – JUSTIFICATIVAS............................................................................02
3 – OBJETIVOS.......................................................................................03
4 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA....................................................03
5 – HIPÓTESES.......................................................................................12
6 – FONTES E METODOLOGIA.........................................................12
7 - CRONOGRAMA...............................................................................13
8 – REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA.................................................13
9 – ANEXOS.............................................................................................14


















1 – Introdução

Nesse trabalho tentarei mostrar um quadro que se agrava cada vez mais na saúde pública de Aracaju, e que precisa de medidas imediatas para sua solução. A violência cometida pelos usuários do Programa da Saúde da Família contra os funcionários desse mesmo programa. Mostraremos as reais causas dessa violência e as medidas que devem ser tomadas pelas autoridades competentes para acabar com esse problema, ou pelo menos minimizá-lo. A nossa pesquisa trabalhará, interdisciplinamente, com a antropologia, a sociologia e a psicologia, sendo que está situada no campo da História Social.
No segundo capítulo apresentarei minhas justificativas, demonstrando que a pesquisa é viável e importante, tanto para a comunidade acadêmica como para a social.
No terceiro capítulo demonstrarei os objetivos da presente pesquisa. No quarto capítulo falaremos do PSF no Brasil: sua criação em Cuba, sua implantação no Brasil, seus objetivos e suas melhorias. Além de conceituar “equipe de saúde da família” e dar seus objetivos. No quinto capitulo discorreremos a cerca da prestação de serviço do SUS e do PSF em Aracaju e as melhorias que foram implantadas. Nesse capitulo problematizaremos essa prestação de serviço. Lembrando que nesse capítulo faremos a nossa revisão bibliográfica, onde conversaremos com autores que nos serviram de base teórica para a realização desse trabalho. No sexto capítulo demonstraremos que uma das causas da violência no PSF é a falta de capacitação dos funcionários, e de educação dos usuários. Nos capítulo 7 e 8 apresentaremos, respectivamente, nossas hipóteses e nossas fonte e metodologia.

2 - Justificativas

Conforme veremos em outro capítulo desse projeto, existe uma lacuna de obras direcionadas para o enfoque proposto nesse projeto. Em nossa pesquisa verificamos alguns trabalhos referentes a violência contra funcionários da saúde, mas, não nos deparamos com nenhum estudo referente ao tema aqui proposto nesse espaçio-temporal.
O tema por nós proposto favorecerá elaboração de uma maior conscientização social acerca do problema evidenciado aqui. Uma vez que é muito pouco divulgado, trabalhos com esse tema entre os usuários do Programa de Saúde da Família.
O tema que nos propomos a pesquisar é perfeitamente viável. Apesar de não termos encontrado trabalho referente ao nosso tema - o que não quer dizer que não exista – no Brasil, existem diversas obras que debatem ou se aproxima do nosso tema. Há três anos, sou funcionário do PSF de Aracaju, trabalhando de segunda a sexta feira. Essa convivência diária com os funcionários e os usuários do PSF facilitará a observação, a pesquisa e a aplicação de questionários aos mesmos. Já adiantando que trabalharemos em conjunto com a sociologia e a antropologia.

3 – Objetivos

3.1 – Gerais:

Contribuir para o conjunto de estudos historiográficos sobre a violência contra os funcionários do PSF.
Esclarecer os reais motivos de tantas violências verbais e físicas sofridas pelos funcionários do PSF, por parte dos usuários desse programa.

3.2 – Específicos:

Conhecer a realidade rotineira dos participantes do PSF, através do convívio e da observação, relacionando esse conhecimento com o tema proposto.
Conscientizar os participantes do PSF, através da divulgação desse estudo entre eles, e contribuir para a diminuição ou erradicação da violência nesse programa.

4 - O Programa de Saúde da Família no Brasil.

O Ministério da Saúde criou, em 1994, o Programa Saúde da Família (PSF). Seu principal propósito: reorganizar a prática da atenção à saúde em novas bases e substituir o modelo tradicional, levando a saúde para mais perto da família e, com isso, melhorar a qualidade de vida dos brasileiros.
A estratégia do PSF prioriza as ações de prevenção, promoção e recuperação da saúde das pessoas, de forma integral e contínua. O atendimento é prestado na unidade básica de saúde ou no domicílio, pelos profissionais (médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem e agentes comunitários de saúde) que compõem as equipes de Saúde da Família. Assim, esses profissionais e a população acompanhada criam vínculos de co-responsabilidade, o que facilita a identificação e o atendimento aos problemas de saúde da comunidade.
A Saúde da Família é entendida como uma estratégia de reorientação do modelo assistencial, operacionalizada mediante a implantação de equipes multiprofissionais em unidades básicas de saúde. Estas equipes são responsáveis pelo acompanhamento de um número definido de famílias, localizadas em uma área geográfica delimitada. As equipes atuam com ações de promoção da saúde, prevenção, recuperação, reabilitação de doenças e agravos mais freqüentes, e na manutenção da saúde desta comunidade. A responsabilidade pelo acompanhamento das famílias coloca para as equipes saúde da família a necessidade de ultrapassar os limites classicamente definidos para a atenção básica no Brasil, especialmente no contexto do SUS.
A estratégia de Saúde da Família é um projeto dinamizador do SUS, condicionada pela evolução histórica e organização do sistema de saúde no Brasil. A velocidade de expansão da Saúde da Família comprova a adesão de gestores estaduais e municipais aos seus princípios. Iniciado em 1994, apresentou um crescimento expressivo nos últimos anos. A consolidação dessa estratégia precisa, entretanto, ser sustentada por um processo que permita a real substituição da rede básica de serviços tradicionais no âmbito dos municípios e pela capacidade de produção de resultados positivos nos indicadores de saúde e de qualidade de vida da população assistida.
A Saúde da Família como estratégia estruturante dos sistemas municipais de saúde tem provocado um importante movimento com o intuito de reordenar o modelo de atenção no SUS. Busca maior racionalidade na utilização dos demais níveis assistenciais e tem produzido resultados positivos nos principais indicadores de saúde das populações assistidas pelas equipes saúde da família.

4.1 - Equipes de Saúde da Família.

O trabalho de equipes da Saúde da Família é o elemento-chave para a busca permanente de comunicação e troca de experiências e conhecimentos entre os integrantes da equipe e desses com o saber popular do Agente Comunitário de Saúde. As equipes são compostas, no mínimo, por um médico de família, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e seis agentes comunitários de saúde. Quando ampliada, conta ainda com: um dentista, um auxiliar de consultório dentário e um técnico em higiene dental.
Cada equipe se responsabiliza pelo acompanhamento de cerca de 3 mil a 4 mil e 500 pessoas ou de mil famílias de uma determinada área, e estas passam a ter co-responsabilidade no cuidado à saúde. A atuação das equipes ocorre principalmente nas unidades básicas de saúde, nas residências e na mobilização da comunidade, caracterizando-se: como porta de entrada de um sistema hierarquizado e regionalizado de saúde; por ter território definido, com uma população delimitada, sob a sua responsabilidade; por intervir sobre os fatores de risco aos quais a comunidade está exposta; por prestar assistência integral, permanente e de qualidade; por realizar atividades de educação e promoção da saúde. E, ainda: por estabelecer vínculos de compromisso e de co-responsabilidade com a população; por estimular a organização das comunidades para exercer o controle social das ações e serviços de saúde; por utilizar sistemas de informação para o monitoramento e a tomada de decisões; por atuar de forma intersetorial, por meio de parcerias estabelecidas com diferentes segmentos sociais e institucionais, de forma a intervir em situações que transcendem a especificidade do setor saúde e que têm efeitos determinantes sobre as condições de vida e saúde dos indivíduos-famílias-comunidade.

5 - A Prestação de Serviço do SUS em Aracaju.

São vários os serviços oferecidos pelo SUS (Sistema Único de Saúde), em nossa capital. Dentre eles citamos: Atendimento com médicos generalistas e especialistas (otorrino, pediatra, dermatologista, ortopedista, cirurgião geral, ginecologista, cardiologista, geriátricos, obstetras, oncologistas, pneumologista, endocrinologista, oftalmologista, neurologista, entre outros); serviço odontológicos nas unidades de saúde, e odontologia emergencial no Hospital da zona norte.
No CEMAR (Centro de Especialidades Medicas de Aracaju) da mulher, CEMAR Siqueira Campos e o CEMAR Augusto Franco, são oferecidos diversos serviços de especialidade a comunidade. Uma diversidade de exames também é oferecida ao público.
Na rede de urgência e emergência de Aracaju, nós temos o SAMU que funciona 24 horas por dia e, faz atendimento em toda capital, através do número 192. Essa rede conta ainda com o Hospital Santa Izabel, que oferece atendimento pediátrico 24 horas; com a urgência neuro-comportamental do Hospital São José, que oferece atendimento em psiquiatria e neurologia; com os Prontos Socorros do Hospital Cirurgia, Fernando franco e Nestor Piva, 24 horas por dia.
Na rede de atenção psicosocial nós temos os CAPS (Centro de Atenção Psicosocial). O objetivo dos CAPS é resocializar os pacientes com problemas mentais, tratando-os com liberdade, e aconselhando suas famílias nessa resocialização, abolindo dessa forma os manicômios e suas longas internações. Em Aracaju temos os CAPS Vida, Davi Capistrano, liberdade, Artur Bispo do Rosário e o CAPS primavera que é exclusivo para o tratamento de alcoólatras.
Na rede hospitalar o SUS oferece atendimento adulto e infantil nos Hospitais Santa Izabel e Santa Helena, na maternidade Hildete Falcão e na clínica Santa Helena.
Alguns programas de saúde são oferecidos a comunidade: Programa Mamãe Coruja, que orienta as mães e acompanha as crianças do nascimento ao desenvolvimento; Programa de Saúde da Mulher, que orienta e preveni o câncer de útero e das mamas, trabalha com o planejamento familiar e outros;Programas e prevenção das doenças sexualmente transmissíveis;oferecendo informações, exames tratamentos e acompanhamento psicológico para os portadores de HIV, dentre outros programas.
A Rede Farmacêutica oferece medicamentos gratuitos para a população dentre eles, temos remédios para diabéticos, hipertensos, tuberculosos, hanseníase, esquistossomose, contraceptivo, medicamentos para saúde mental e para urgência e emergência, além de diversos medicamentos que são entregues nas unidades de saúde do PSF. Os medicamentos que não são oferecidos gratuitamente podem ser comprados por um preço bem reduzido na farmácia popular. É bom deixar bem claro que os serviços citados nesse capítulo são referentes aos oferecidos pelo poder municipal, não estamos falando no âmbito estadual.

5.1 - O PSF em Aracaju.

Em Aracaju a Rede de Atenção a Saúde da Família é composta por 43 unidades de saúde distribuídas estrategicamente em todo o município. Essas unidades trabalham com o Programa de Saúde da Família onde cada equipe é composta por médico, enfermeiro, assistente social, auxiliar de enfermagem, dentista e agente comunitário de saúde. Uma equipe se responsabiliza por uma média de 3 a 4 mil pessoas em cada área. Cada Unidade de Saúde da Família é responsável por um determinado território, portanto cada parte da cidade está sob responsabilidade de uma unidade de saúde. A rede de atenção à Saúde da Família funciona como “porta de entrada principal” no atendimento. Todo e qualquer tipo de atendimento em saúde pode ter início nesse sistema.
A equipe se responsabiliza pela saúde individual de cada usuário e também pela saúde da comunidade de sua área, avaliando os riscos a que essa população está exposta, e trabalhando para sua eliminação. Isso é feito, principalmente, pelo Agente Comunitário de Saúde. Esse profissional segue uma agenda de visitas às famílias assistidas para acompanhamento.
O acesso do paciente a Rede é feito pelas Unidades de Saúde do PSF. O paciente fala sua necessidade que vai ser avaliada por um profissional competente e, se for urgente, será atendido no mesmo dia, o que é chamado de acolhimento. Caso possa esperar, sua consulta vai ser marcada para depois. Com a consulta marcada, a pessoa será atendido por um médico generalista que vai conversar, fazer perguntas e analisar o caso. Outra forma de acessar os serviços da Atenção à Saúde da Família é se o paciente tiver alguma doença crônica, como hipertensão ou diabetes, ou ainda se estiver grávida, seu atendimento é agendado de acordo com o protocolo do Programa que a assiste.
Nas unidades do PSF são oferecidos os seguintes serviços: consultas com médicos generalistas, consultas com pediatras, atendimento odontológico, acompanhamento com enfermeira de saúde da família, assistente social e agentes comunitários de saúde, visitas domiciliares, aplicação de aerosol, vacinas e curativo e atendimento de emergência.
No PSF as informações relativas ao paciente quanto a autorização de consultas e exames são todas informatizadas através do TAS. O terminal de atendimento a saúde é um mecanismo eletrônico que ajuda a gerenciar o sistema informativo da Saúde de maneira mais eficiente.
Ele é um equipamento dedicado, ou seja, usado somente para registrar os dados de saúde da população de Aracaju. O TAS é instalados em todos os pontos de atendimento do sistema de saúde no município de Aracaju.

5.2 - Problematizando do Programa de saúde da Família em Aracaju.



No início desse capítulo listamos os serviços oferecidos pelo SUS municipal. Nesse tópico problematizaremos a prestação desses serviços, e relacionaremos a questão com outros autores.
Discordamos do Dr. Rogério Carvalho Santos, ex secretário da saúde do município e atual secretário da saúde do estado, quando em sua obra “Saúde Todo Dia: uma construção coletiva”, ele sugere que o SUS e consequentemente o PSF em Aracaju, caminham para a excelência, lhes faltando pouco para isso. Naturalmente o autor estava vendendo o seu peixe, uma vez que em a sua obra foi lançada quando ainda era secretário municipal. Pois bem, vejamos pelos olhos de quem convive e participa diretamente com as questões do PSF em Aracaju, o nosso olhar sendo que nos voltaremos principalmente para os serviços prestados pelo PSF.
Para ser consultado por um médico generalista, o paciente passa antes pelo acolhimento, trata-se de um acolhimento personalizado feito por um enfermeiro ou por um auxiliar de enfermagem, onde o usuário expressa suas necessidades, a partir dessa necessidade ele pode ser atendido no mesmo dia ou ser agendado para outro dia. O problema da questão é que, quando a agenda do médico está completa, e isso acontece porque as equipes do PSF não são suficientes para atender bem a população de Aracaju, o paciente é agendado para um período muito longo. Revoltado com a demora da consulta, é comum o paciente reagir com agressão verbal contra o responsável pelo acolhimento. Já presenciei e já fui agredido dessa forma. Agora daremos alguns exemplos dessas agressões sofridas rotineiramente pelos funcionários. Certo dia, ao informar a paciente que não estava agendando consultas por causa da agenda lotada, a paciente chamou a mim e a todos os funcionários de vagabundos. Ainda por conta da agenda lotada, uma senhora me xingou com vários palavras obscenas, foi necessário chamar o guarda para minha segurança.
Outra vez, um rapaz queria derrubar a porta do consultório da médica, quando soube que não seria atendido, foi contido pelo segurança e usuários. O mais grave que já presenciei, foi quando uma enfermeira veio chorando me pedir que ficasse de segurança, porque estava sendo ameaçada por um usuário; e uma auxiliar de enfermagem que levou uma tapa na cara de uma usuária porque não agendou a mesma.
Outro serviço oferecido pelo SUS, são as consultas de especialidades e exames. No PSF, o médico de acordo com a necessidade do paciente, encaminha-os para médicos especialistas e para realizar exames. Algumas especialidades e exames mais simples são logo autorizados. Agora, os exames mais complexos (mais caro) e algumas especialidades como oftalmologista, dermatologistas, fisioterapeuta e outros, a espera é de até três meses. Essa demora desespera o usuário que, lança sua ira no funcionário do setor de autorização de consultas e exames. É comum esses funcionários receberem xingamento, dedo na cara e ameaça por parte dos usuários. Esses funcionários administrativos estão na linha de frente e, são vistos como culpados, pelas falhas das autoridades municipais da saúde. O usuário, não podendo atingir o estado que presta os serviços de saúde, ver os funcionários, que representam esse estado, e nele despeja sua revolta.
Mais uma vez terei que discordar de Santos, quando diz nessa mesma obra, citada anteriormente, que as consultas e exames são agilizados a pedido dos médicos. As reclamações são várias a esse respeito, até os médicos se queixam dessa demora. Quanto a essa questão daremos alguns exemplos. Presenciei o drama de uma médica por causa dessa questão. Ela tinha pedido uma consulta urgente para um oftalmologista, para uma criança. Várias vezes pediu ao gerente da unidade da saúde para agilizar a consulta da criança. A consulta da criança não foi agilizada, o problema da criança se agravou ao ponto dela perder a visão de um olho. Quem é o culpado? Para a mãe da criança a médica é a culpada. Pensando assim, essa usuária chegou na unidade dizendo: “ cadê aquela vagabunda que deixou o olho do meu filho cegar?”, a discussão se prolongou o constrangimento foi grande, sorte da médica que tinha seus pedidos todos por escritos, se não o sistema também a culparia. Esses exemplos citados aqui são apenas uma pequena mostra da violência sofrida pelos funcionários do PSF.
Aplicamos questionários em 5 unidades de saúde do PSF(Hugo Gurgel, Antônio Alves, Augusto Franco, Augusto César Leite e Elizabeth Pita), todos nessa capital. Os questionários foram aplicados a 65 funcionários e 100 usuários das respectivas unidades, no período de 02 a 12 de janeiro de 2007. As pessoas não precisaram se identificar, para que não tivessem receio de falar a verdade. Sabemos que a pesquisa de campo foi muito restrita, uma vez que, em Aracaju, existem 44 unidades de saúde do PSF, e a pesquisa foi realizada em apenas 5 dessas unidades. Os questionários foram aplicados a médicos, dentistas, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, auxiliares de dentistas, auxiliares administrativos e agentes de saúde. Pretendemos que, futuramente, a pesquisa possa ser abrangida a todas as unidades do PSF, a todos os funcionários desse programa e a um número bem maior de usuários desse programa, para assim obtermos números mais exatos. Mas, entendemos que a pesquisa é uma boa ferramenta para nossos argumentos, e segundo os métodos estatísticos refletem a realidade, com uma pequena margem de erro.
Ver tabelas e questionários em anexo.
A tabela 1 demonstra o nível de gravidade existente nas unidades de saúde, já que, quase 100% dos funcionários referem ter sofrido algum tipo de violência por parte do usuário. A tabela 2 mostra os motivos que levam os usuários a praticarem a violência contra os funcionários. Deixando claro que as principais causas da violência estão relacionadas com o mau atendimento, ou seja, a falta de capacitação do funcionário para atender melhor os usuários, e com a demora na autorização de exames e consultas especializadas. A tabela 3 mede o nível de satisfação do funcionário. Demonstrando que a soma de ruim e regular é quase sempre superior a soma de bom e ótimo, isso quer dizer que, o funcionário não está satisfeito e isso pode refletir no atendimento ao paciente. A tabela 4 nos mostra que os usuários encontram-se insatisfeitos, principalmente, com a demora na autorização de exames e consultas especializadas, e são esses os principais motivos de tanta violência no Programa de Saúde da Família.
Os números deixam claro que é necessário melhorar urgentemente alguns aspectos referentes ao PSF, aspectos esses que já foram discorridos nesse trabalho.
Apesar de não concordar com a excelência SUS em Aracaju, tenho que concordar com o Dr. Rogério C. Santos, quando diz que houve grandes melhorias do PSF no período 2000-2006. Realmente houve melhorias como: concurso público para aumentar o quadro de funcionário, aumento de salário, maior capacitação, melhor condição de trabalho, reforma de 90% das unidades de saúde etc. Lamentamos que o que foi feito não suficiente para tornar satisfeitos, usuários e funcionários, e para acabar com essa relação de conflitos diários entre eles.


6 - Saúde Pública x Educação.

Um dos males da nossa saúde pública é a pouca ou nenhuma capacitação dos funcionários. Mas a saúde pública não é feita somente por funcionários, mas por usuários que por falta de uma educação consistente, reflexo do meio social em que vivem, não sabem exigir seus direitos, nem cumprir os seus deveres. O conjunto desses fatores educacionais cria um ambiente de agressão mútua.
Boa parte dos funcionários da saúde pública são pessoas despreparadas para lidar com o público, por falta de capacitação ou de educação. E não me refiro aqui a educação acadêmica, ou escolar, pois muitos desses funcionários a possuem. Além do mais, sabemos que a educação acadêmica não é sinônimo da verdadeira educação. O que chamo aqui de verdadeira educação, é a educação humana, a bondade, o prazer em cuidar de pessoas necessitadas e carentes. A capacitação profissional é imprescindível para que o funcionário desempenhe bem suas funções. É necessário cursos de reciclagem constantes para todos os funcionários. Infelizmente isso não acontece no PSF. O PSF oferece cursos regulares para profissionais médicos e enfermeiros, mas esquece que os agentes de saúde, os auxiliares de enfermagem, os auxiliares administrativos e outros, também precisam de capacitação. Para esses funcionários a capacitação não é freqüente, nem comum. Porém, esses funcionários são os que matem os primeiros contatos com os usuários, é a porta de entrada da unidade de saúde e a partir deles tem início o atendimento. Sendo assim, por que esses funcionários não são capacitados da mesma forma que os médico e enfermeiros? São considerados menos importantes do que os médicos e enfermeiros? Ou são auto didatas? Como a segunda opção é impossível nos resta a primeira. É necessário mais cursos de capacitação, e que eles sejam abrangidos a todos os funcionários.
Os usuários são partes integrantes da saúde pública, e também colaboram para o caos educacional vigente nessa área. Submetidos a um sistema social cruel que lhes oferece poucas oportunidades de adquirir uma boa educação, e a educação que me refiro agora è a educação escolar. Não conhecem bem os seus direitos, para exigi-los de forma adequada, nem os seus deveres, a fim de cumprirem e exercerem assim sua plena cidadania. Essas deficiências educacionais por parte dos servidores e dos usuários da saúde pública, cria um quadro de agressões mútuas, que vai de agressões verbais às agressões físicas, podendo chegar até a morte, como foi o caso da médica do INSS, assassinada pelo usuário por indeferir o seu processo de aposentadoria.
Dois pontos são imprescindíveis para melhorar essa situação, e os dois estão estritamente relacionados com a educação. Um deles é oferecer uma educação escolar de boa qualidade, que forme pessoas capazes de exercer plenamente sua cidadania, o outro ponto é contratar funcionários que sejam realmente comprometidos com a saúde das pessoas e que exerçam sua profissão com humanidade.




7 - Hipóteses


A falta de capacitação dos funcionários do PSF para um atendimento mais humanitário acaba irritando o usuário, que por falta de educação, lhe imposta pelo sistema social, reage com violência.
A má prestação de alguns serviços do PSF, principalmente a demora na autorização de alguns exames e consultas especializadas, desespera o usuário, que reage contra o Sistema de Saúde, sem poder atingi-lo, agride o funcionário, representante desse Sistema.

8 - Fontes e Metodologia

O nosso trabalho articula-se diretamente com a história oral, uma vez que utilizamos e utilizaremos as técnicas referentes a esse campo da história, para recolher uma série de entrevistas, e assim obter informação dos participantes do PSF. Trabalharemos, também, em conjunto com a antropologia, a sociologia e a psicologia, já que utilizaremos técnicas e métodos referentes a essas áreas, como por exemplo: a observação, o convívio e a aplicação de questionários. Esses métodos são possíveis, pois, como já disse, trabalho oito horas, diariamente, na unidade de saúde Hugo Gurgel, no bairro coroa do meio, em Aracaju. Também foi feita uma pesquisa bibliográfica, de onde utilizaremos algumas obras para dialogarmos, além de artigos, revistas e fontes eletrônicas.












9 – CRONOGRAMA


Atividades
Novembro
dezembro
Janeiro
Fevereiro
Tema
X



Fontes de Pesquisa
X



Objetivos
X



Justificativas

X


Hipóteses

X


Metodologia

X
X
X
Fundamentação teórica

X
X
X
Cronograma



X
Referências
X
X


Título
X



Digitação do Projeto



X
Entrega do Projeto



X


Referências Bibliográficas:

BARROS, José D’Assunção. O Projeto de Pesquisa em História: da escolha do tema ao quadro teórico. Petrópolis: Vozes, 2005. 190p.
LAKATOS, Eva Maria. Metodologia do Trabalho Científico. 2 ed. São Paulo: Atlas. 1987. 79p.
Revista da Secretaria municipal da Saúde. Guia Saúde da Família. Março 2006, ano 1- n.1.
RUIZ, João Álvaro. Metodologia Cientifica: guia para eficiência nos estudos. 2 ed. São Paulo: Atlas S.A, 1996.144p.
SANTOS, Rogério Carvalho. Saúde Todo Dia: uma construção coletiva. São Paulo: Hucitec. 2006. 239p
SILVA JÚNIOR, A.G. Modelos Tecnoassistenciais em Saúde: o debate no campo da saúde coletiva. São Paulo: Hucitec. 1998.
VERENA, Alberti. História Oral: a experiência do CPDOC. Rio de Janeiro: Editor da Fundação Getúlio Vargas, 1990. 174p.
www.wikipédia .com.br. acesso em 03 de fevereiro de 2007.
Site oficial do ministério da saúde. Acesso em 02 de fevereiro de 2007.
www.aracaju.se.gov..br/saúde. acesso em 04 de fevereiro de 2007

















ANEXOS
















TABELA 1
TIPO DE VIOLÊNCIA SOFRIDA PELO FUNCIONÁRIO

DE 65

TIPO DE VIOLÊNCIA PRATICADA PELO USUÁRIO

DE 100

VERBAL
60
VERBAL
69
FISICA
03
FÍSICA
02
AMEAÇAS
35
AMEAÇAS
13
NÃO SOFREU VIOLÊNCIAS
05
NÃO PRATICOU VIOLÊNCIAS

31

TABELA 2
MOTIVO DA VIOLÊNCIA
SOFRIDA PELO FUNCIONÁRIO

DE 65
MOTIVO DA VIOLÊNCIA
PRATICADA PELO USUÁRIO

DE 100
MAU ATENDIMENTO PRESTADO
10
ATENDIMENTO RECEBIDO
37

CULPA DO TAS*


31
DEMORA EM AUTORIZAR
CONSULTAS E EXAMES

51

FALTA DE EDUCAÇÃO DO USUÁRIO
24
IGNORA
12
TAS*(Terminal de Atendimento SUS) serviço de atendimento informatizado, responsável pela autorização de exames e consultas especializadas.









TABELA 3
NIVEL DE SATISFAÇÃO DO FUNCIONÁRIO PARA COM


DE 65


R
Rg
B
O
SITUAÇÃO SALARIAL
47
15
03
00
TRATAMENTO RECEBIDO PELA SMS
19
31
11
04
CURSOS DE CAPACITAÇÃO
21
23
17
04
R = ruim Rg = regular B = bom O = ótimo
SMS = Secretaria Municipal da Saúde

TABELA 4
NÍVEL DE SATISFAÇÃO DO USUÁRIO PARA COM
DE 100

R
Rg
B
O
ESPERA DE CONSULTAS E EXAMES
49
28
23
00
ESTRUTURAS DOS PREDIOS
15
25
51
09
ATENDIMENTO DOS FUNCIONÁRIOS
19
33
39
09
R = ruim Rg = regular B = bom O = Ótimo















QUESTIONÁRIO APLICADO AOS USUÁRIOS DO PSF.

1 – Você já praticou alguma violência contra funcionários do PSF? Se sim especifique.
( )sim ( )não

Violência verbal ( )

Violência física ( )

Ameaça ( )

2 – Quais os motivos que o levou a praticar a violência?

Mau atendimento dos funcionários ( )

Demora na autorização de consultas e exames ( )

Ignora ( )
3 – aponte seu nível de satisfação com as questões abaixo:

Atendimento dos funcionários ( )R ( )Rg ( )B ( )O

Demora na autorização de consultas e exames ( )R ( )Rg ( )B ( )O

Estrutura dos prédios ( )R ( )Rg ( )B ( )O
R=ruin
Rg= regular
B= bom
O= ótimo




QUESTIONÁRIO APLICADO AO FUNCIONÁRIO DO PSF

1 – V0cê já sofreu algum tipo de violência por parte do usuário do PSF? Se sim especifique.
( ) sim ( )não
Violência verbal ( )sim ( )não

Violência física ( )sim ( )não

Ameaças ( )sim ( )não

2 – Aponte os motivos que na sua opinião leva o usuário a praticar a violência contra o usuário.
Mau atendimento dos funcionários ( )sim ( )não

Demora na autorização de consultas e exames ( )sim ( )não

Falta de informação e educação do usuário ( )sim ( )não
3 – Aponte seu nível de satisfação com as questões abaixo.
Situação salarial ( )R ( )Rg ( )B ( )O

Tratamento que recebe da SMS ( )R ( )Rg ( )B ( )O

Capacitação por parte da SMS ( )R ( )Rg ( )B ( )O
R= ruin
Rg= regular
B= bom
O= ótimo
SMS= Secretaria Municipal da Saúde













Resenha - Dom Obá - por Vieira

Eduardo Silva nasceu em 1948, no Rio de Janeiro. É pesquisador e chefe do Departamento de Historia da Fundação Casa Rui Barbosa, no Rio de Janeiro. É doutor em História pela University Colleg London, na Inglaterra. É também autor das obras: Camélia do Leblon e a Abolição da Escravatura e negociação e conflito, obras também publicadas pela editora Companhia da Letras.
Segundo palavras do próprio autor, esse livro procura recuperar aspectos do cotidiano, ambiência cultural e universo simbólico prevalecentes entre escravos, libertos e homens livres de cor no Brasil do século XIX, através de um estudo de caso da vida e pensamento do auto intitulado, Dom Obá II d’África, um tipo de rua que viveu no Rio de Janeiro nas últimas décadas da escravidão e do império.
Quem foi Dom Obá? O que representou? Porque provocava tantas reações contraditórias? Nessa obra Eduardo Silva, procura responder estas perguntas utilizando diversos documentos. O objetivo de Eduardo Silva é estudar um homem como individualidade pensante, e ao mesmo tempo como via de penetração em uma elusiva cultura popular ou mentalidade coletiva do século XIX. Através da individualidade vislumbrar a cultura e a sociedade em que viveu Dom Obá, um mundo ainda habitado por senhores, escravos, libertos e homens livres de cor.
Eduardo Silva começa fazendo um relato do sertão nordestino, principalmente da Bahia, baseado em relatos dos alemães Johann Von Spix e Karl Von Martius. Em seguida fala sobre lençóis, no interior da Bahia, Município onde nasceu Cândido da Fonseca Galvão, desde quando era uma pequena vila até quando se tornou uma das principais cidades baianas, por conta do descobrimento das minas de ouro e do conseqüente aumento da população. Filho de Benvindo da Fonseca Galvão, escravo alforriado, Cândido nasceu livre. Em1865, devido a Guerra do Paraguai Obá se alistou no exército. Silva dá uma visão de como se deu esse alistamento dos “voluntários à corda”, e de muitos que se alistavam para ter cama e comida. Mas o nosso personagem foi realmente um voluntário.
No exército foi promovido a Sargento e depois a Alfeire (oficial). Dessa forma lutou na guerra do Paraguai bravamente, até ser impedido de lutar por causa de um ferimento na mão. Silva faz outro belo relato, trazendo até detalhes de algumas batalhas da referida guerra.
De volta ao Brasil, o Alfeire Galvão volta à Bahia, de onde envia diversos requerimentos ao Imperador pedindo para ser considerado Alfeire do exército. Galvão passou pouco tempo na Bahia por conta da crise de economia nordestina, crise essa que Silva, também discute em sua obra, mostrando a questão da crise algodoeira, do café e outros. O Alfeire Galvão parte para o Rio de Janeiro em 1877, juntamente com diversos outros personagens anônimos. Anônimos como Getúlio Marinho, Tia Ciata de Exun, Tia Anália, dentre outros personagens que Silva utilizava para reconstruir aspectos do cotidiano da vida no Rio de Janeiro. Silva faz um relato social, política e econômico do Rio de Janeiro do final do século XIX. Explora a questão dos transportes moradia, carestia, impostos e da migração de europeus ou chineses para suprir a escassez de mão-de-obra negra por causa da proibição do tráfico negreiro.
Nesse contexto Eduardo Silva, mostra o interesse de Obá pela política e pelas questões sociais. Como ele tinha acesso ao Imperador e as reuniões do palácio, como pagava para ter publicado seus artigos, como participava das manifestações sociais e de onde vinha as idéias e os conhecimentos, do homem que passou a ser conhecido pela imprensa, pelo seu povo e alguns famosos da nossa história como Dom Obá II d’ África.
A obra de Eduardo Silva não é a primeira a ser realizada nessa temática. Trabalhos semelhantes fizeram Ginzburg Dearnton, com quem Silva mantém um diálogo constante. Carlos Ginzburg em “O queijo e os vermes”, procura estudar as idéias, sentimentais, fantasias e aspirações de um moleiro friulano, chamado Domenico Scandela, como via de acesso às mentalidades coletivas do século XVI, italiano. Robert Darnton em “O grande massacre de gatos”, procura revelar muito ousadamente um ingrediente fundamental da cultura artesanal do ancien regime francês, através da velha narrativa de um massacre de gatos executado com grande jocosidade por aprendizes e operários gráficos de uma oficina parisiense nas idas de 1970.
O livro Dom Obá II d’África, O Príncipe do Povo: vida tempo e pensamento de um homem livre de cor, do historiador, Eduardo Silva está dessa forma estruturado. Possui 262 páginas, divididas em prefácio, introdução, oito capítulos que estão subdivididos em tópicos, conclusão, apêndices, notas, bibliografia, crédito das ilustrações e índices onosmático.
Nos primeiros quatro capítulos, o livro reconstrói a vida de Dom Obá tão completamente quanto possível, tendo em vista a natureza fragmentária da documentação. Os dois capítulos seguintes 5 e 6 constituem uma investigação sobre a natureza de suas relações com o Imperador do Brasil, Dom Pedro II, por um lado, e , por outro, sobre a extensão e natureza de sua liderança dentro de seu próprio reino, a “África Pequena” do Rio de Janeiro. O capítulo 7 lida com o quadro geral das idéias de Dom Obá , em particular com o seu pensamento sobre as grandes questões políticas e sociais do seu tempo, o processo de abolição da escravatura e as relações inter-raciais. O último capítulo é uma discussão sobre as fontes do pensamento de Dom Obá e as influências nele presentes, seus pressupostos básicos,universo simbólico e visão da história.
Para realizar essa obra Eduardo Silva se utilizou de uma bibliografia ampla e diversificada. Utilizou várias obras de autores brasileiros e estrangeiros, como Robert Slenes, Russel wood, Maria Isaura Pereira de Queiroz, Gilberto Freire etc. Pesquisou em vários arquivos, como o arquivo nacional, arquivo do exército, arquivo público da Bahia entre outros, onde estudou diversos documentos. Como fontes impressas, utilizou-se dos artigos de Dom Obá II d’Àfrica, publicado na época, de cartas de apoio a Dom Obá, também publicado em jornais da época, alguns trabalhos contemporâneos e outros documentos, além de visitas a museus utiliza ainda mapas e fotos ilustrativas para facilitar a compreensão. Esses recursos foram utilizados pelo autor em sua fundamentação teórica para provar as suas teses, justificar seus pressupostos e resolver a problemática proposta. Para isso ele utilizou uma linguagem simples, direta e compreensível, facilitando a leitura.
De acordo com a investigação feita pelo autor em livros, em documentos que se propôs a estudar, eu acho que o resultado foi muito positivo, uma vez que cumpriu o objetivo a que se propôs. O livro esclarece diversos aspectos do Brasil do século XIX, que são imprescindíveis para a compreensão da nossa História. Porém alguns desses aspectos, como a crise da economia do exército, a guerra do Paraguai e outros são discutidos muito superficialmente. S abemos que para estudar aprofundadamente esses aspectos é necessário um livro para cada um deles. Mais entendo que não é esse o objetivo dele. Eu indicaria a obra para alunos de História do ensino superior e médio, por ser esclarecedor em vários aspectos da nossa História. Para sociólogo, antropólogo e o público em geral interessado em boa leitura e em História do Brasil.



Referência:

SILVA, Eduardo; Dom Obá II d’África, O Príncipe do Povo:vida, tempo e pensamento de um homem livre de cor. 1º ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. 262 p. m discute em sua obra, mostrando a questda crise de econ Imperador pedindo para ser considerado Alfeire do exercito

Resenha Visões da Liberdade - por Vieira

Sidney Chalhoub possui graduação em História - Lawrence University (1979), mestrado em História pela Universidade Federal Fluminense (1984) e doutorado em História pela Universidade Estadual de Campinas (1989). Atualmente é professor titular da Universidade Estadual de Campinas. Tem experiência na área de História, com ênfase em História do Brasil, atuando principalmente nos seguintes temas: Rio de Janeiro, abolição, escravidão, Machado de Assis e literatura. Sua linha de pesquisa atual é História Social da Cultura (linha de pesquisa atual), História Social do Trabalho, Escravidão e Trabalho Livre, Cultura e cidades. Alguns prêmios e títulos recebidos por Sidney Chalhoub foram: Menção Honrosa no Prêmio Casa Grande & Senzala, Fundação Joaquim Nabuco(1999) e Prêmio Jabuti, Câmara Brasileira do Livro(1997). Também é autor de vários artigos e alguns projetos de pesquisas. Uma versão desse livro foi defendida como tese de doutorado em História na unicamp em 1989, a presente versão não é diferente da original. Em sua estrutura, o livro contém 287 páginas divididas em três capítulos.
Sidney Chalhoub não foi o único a escrever obras dentro dessa temática de “Visões da Liberdade”, vários outros autores com os quais chalhoub procurou dialogar para escrever sua obra realizaram Trabalho semelhante. Dentre esses autores destacamos Carlos Ginzburg em “O queijo e os vermes”, procura estudar as idéias, sentimentais, fantasias e aspirações de um moleiro friulano, chamado Domenico Scandela, como via de acesso às mentalidades coletivas do século XVI, italiano. Robert Darnton em “O grande massacre de gatos”, procura revelar muito ousadamente um ingrediente fundamental da cultura artesanal do ancien regime francês, através da velha narrativa de um massacre de gatos executado com grande jocosidade por aprendizes e operários gráficos de uma oficina parisiense.
Segundo chalhoub existe uma lacuna na forma como a discussão sobre o tema vem sendo conduzida até aqui. O que falta ao método de Zadig, em Ginzburg e Darnton, é o “movimento da história”, a preocupação em propor uma teoria explicativa das mudanças históricas. A construção de uma tal teoria é o objeto desse livro. Sendo que ele prefere o termo “processo histórico” em vez de “transição”, pois o que ele pretende é recuperar a indeterminação, a imprevisibilidade dos acontecimentos. Para chalhoub o esforço nesse sentido é essencial para a compreensão adequada do sentido que os personagens históricos de outra época atribuíam às suas próprias lutas. O autor então buscou compreender o significado da liberdade para escravos e libertos, trabalhando quase sempre no campo da interpretação de interpretações, buscando perceber o que os diferentes sujeitos históricos entendiam por escravidão e liberdade, e como interagiam no processo de produção dessas visões ou percepções.
Para chalhoub, o significado da liberdade, para os negros, foi forjado na experiência do cativeiro; e, sem dúvida, um dos processos mais traumáticos da escravidão era a constante compra e venda de seres humanos. Dessa forma, o primeiro capítulo do livro aborda os problemas das percepções e da atitude dos próprios escravos diante das situações de transferências de sua propriedade. Argumentando que havia visões escravas da escravidão que transformava as transações de compra e venda de negros em situações muito mais complexas do que simples trocas de mercado. Os negros tinham sua própria concepção do que era cativeiro justo, e até mesmo tolerável; havia maneiras mais ou menos estabelecidas de os cativos manifestarem sua opinião no momento decisivo da venda.
No segundo capítulo, que encontrou seu impulso inicial num artigo de Manuela Carneiro da Cunha, Chalhoub faz uma análise da ideologia da alforria e suas transformações na corte na segunda metade do século XIX. Centrado principalmente no estudo das ações civis de liberdade, o capítulo defende a necessidade de uma reinterpretação da lei de 28 de setembro de 1871: em alguma de suas disposições mais importantes, como em relação ao pecúlio dos escravos e ao direito a alforria por indenização de preço, a lei do ventre livre representou o direito legal de uma série de direitos que os escravos vinham adquirindo pelo costume, e a aceitação de alguns dos objetivos das lutas dos negros.
A história das lutas dos negros na corte pela liberdade ao longo do século XIX é parte essencial da história da própria cidade do Rio nesse período. O último capítulo, portanto trata da “cidade negra”. Os escravos, libertos e negros livres pobres do Rio de Janeiro instituíram uma cidade própria, arredia e alternativa, possuidora de suas próprias racionalidades e movimentos, e cujo significado fundamental, independentemente ou não das intenções dos sujeitos históricos, foi fazer desmanchar a instituição da escravidão na corte, despertando a fúria demolidora das primeiras administrações republicanas, que perseguiu capoeira, demoliu cortiços, tentou de todas as formas desmontarem o verdadeiro cenário e solapar o significado da luta negra contra a escravidão. O último capítulo relata essa luta, através da reconstituição de seus cenários e significados.
Para a elaboração dessa obra, Sidney Chalhoub utilizou uma bibliografia ampla e diversificada. Utilizou outras obras de autores brasileiros e estrangeiros. A maior parte de sua pesquisa foi realizada no arquivo do primeiro tribunal do júri da cidade do Rio de Janeiro e no arquivo nacional. Pesquisando processos criminais, processos civis, ações civis de liberdade, processos comerciais, chalhoub conseguiu relacionar esses diversos documentos para alcançar o seu objetivo. Também utilizou vários jornais e revistas da época como: jornal do comércio, o globo, gazeta do Rio. Utilizou ainda vários artigos teses folhetos e obras literárias. Esses recursos foram utilizados pelo autor em sua fundamentação teórica para provar suas teses, justificar seus pressupostos e resolver a problemática por ele proposta. Ou seja, a partir de todo esse acervo, documentação e ilustração, ele faz uma análise das últimas décadas da escravidão na corte. Para isso ele utiliza uma linguagem simples e objetiva, facilitando a leitura e compreensão por parte do leitor.
Comparando seu trabalho com outras obras como: às de Walter Fraga Filho, que em suas obras, “Encruzilhadas da Liberdade” e “Mendigos, Moleques e Vadios na Bahia do século XIX”, procurou reconstituir as trajetórias individuais de vida dos negros e suas estratégias de sobrevivência e resistência, e às de Eduardo Silva, que em sua obra, Dom Obá II d’África, O Príncipe do Povo: vida, tempo e pensamento de um homem livre de cor, procura reconstruir um período da história da luta dos negros, pesquisando sobre a vida de um personagem principal. Verificamos algumas semelhanças quanto às fontes e a forma como elas foram utilizadas nessas pesquisas. É impossível não deduzir que essas obras citadas acima foram inspiradas na obra de Sidney Chalhoub.
Chalhoub chama a atenção para uma importante discussão sobre as afinidades entre a História e a Antropologia Social, ampliando seu arcabouço teórico com a exposição de concepção de análise histórica que variam entre autores como Carlos Ginzburg, Robert Darnton, E. P. Tompson, Sidney Mintz e o antropólogo Clifford Geertz. Também faz críticas ao que ele chama de “teoria da coisificação” do negro e a seus autores Fernando Henrique Cardoso e Jacob Gorend.
De acordo com a investigação feita pelo autor em livros, em documentos que se propôs a estudar, eu acho que o resultado foi muito positivo, uma vez que cumpriu o objetivo a que se propôs. O livro esclarece diversos aspectos da visão e percepção dos negros sobre a liberdade, nas últimas décadas do século XIX, no Rio de Janeiro, que são imprescindíveis para a compreensão da História das lutas dos negros pela liberdade e de como ocorreu esse processo. Eu indicaria a obra para alunos de História do ensino superior e médio, por ser esclarecedora em vários aspectos da nossa História. Para sociólogo, antropólogo e o público em geral interessado em boa leitura e em História dos negros no Brasil.


Referência:
CHALHOUB, Sidney. Visões da Liberdade: uma história das últimas décadas da escravidão na corte. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.

Resenha A História Recente do Brasil - por Vieira

Sônia Regina de Mendonça concluiu o doutorado em História Econômica pela Universidade de São Paulo em 1990. Atualmente é Aposentada da Universidade Federal Fluminense. Publicou 34 artigos em periódicos especializados e 41 trabalhos em anais de eventos. Possui 15 capítulos de livros e 15 livros publicados. Recebeu 2 prêmios e/ou homenagens: o Prêmio Cientistas de Noso Estado da FAPERJ (2004) e o Edital Universal do CNPq (2005). Atualmente coordena 2 projetos de pesquisa e é líder do Grupo de Pesquisa "Estado e Poder no Brasil". Atua na área de História, com ênfase em História Política do Brasil República, além de História da Agricultura Brasileira no Século XX. Virgínia Maria Fontes possui graduação em História pela Universidade Federal Fluminense (1978), mestrado em História pela Universidade Federal Fluminense (1985) e doutorado em Filosofia pela Université de Paris (1992). Atualmente é funcionário da Universidade Federal Fluminense. Tem experiência na área de História com ênfase em Teoria e Filosofia da História. Atuando principalmente nos seguintes temas: democracia, revolução, Pensamento político brasileiro.
As autoras se propõem a discutir o longo caminho percorrido, bem como o significado real de cada fato, até 1985, ano que segundo elas, teve um papel chave no desenrolar da história recentíssima do Brasil. Ainda segundo elas, 1985, assinala em teoria a tão propalada “transição democrática”, no sentido da restauração da ordem institucional e de retorno dos militares aos quartéis.
Apresentam o golpe de 64, como significando uma ruptura política com o populismo e o aprofundamento das tendências econômicas preexistentes, fornecem a moldura para algumas transformações expressivas na sociedade e no rumo do capitalismo brasileiro. O período estudado nessa obra é caracterizado, segundo Mendonça e Fontes, pela crescente participação do estudo na economia e pela ampliação das atribuições do executivo em detrimento nos demais poderes e canais de representações políticas. Nesse período também houve um aprofundamento da interdependência entre o político e o econômico, por conta do papel do estado na gestão da produção e do sistema financeiro, como elemento básico da articulação entre os diversos setores.
Sônia Regina de Mendonça e Virgínia Maria Fontes, mostra ao longo da obra como a combinação de uma conjuntura repressiva internacional, com a exaustão de uma classe trabalhadora vitimada por anos de arrocho e o acúmulo das contradições do modelo praticado, inaugurariam a crise brasileira por volta de 1974. As ambigüidades desse processo, bem como sua relação com a nossa realidade cotidiana, são também objetivos das autoras. Tentam responder a sua hipótese de que a abertura política viria a se constituir em “moeda de troca” ou da opção pela recessão.
No capítulo II, as autoras discutiram os antecedentes do golpe de 1964, mostrando um quadro político econômico e social de 61-64. As disputas partidárias, a polêmica entre executivo e legislativo, as lutas sindicais, as manifestações, a inflação e as conspirações que revelam a estreita relação entre todos esses elementos a sua importância para o desfecho militar. No terceiro capítulo, Mendonça e Fontes debatem acerca do milagre econômico e suas bases. Para elas o favorecimento das grandes empresas era o seu objetivo, o arrocho salarial, sua estratégia, o combate à inflação, sua justificativa legitimadora. Essas são as bases do que veio a ser o milagre econômico. Também debatem a intervenção do estado nos sindicatos, à subordinação dos trabalhadores, as manifestações reacionárias dos trabalhadores e sua repressão violenta, os empréstimos internacionais e o endividamento. No quarto capítulo, Mendonça e Fontes discutem o problema da legitimidade do regime militar numa situação de coexistência de uma ordem legal e uma ordem de exceção, seus desdobramentos e seus aspectos. No capítulo V, discutem a crise dos anos 70 e o fim do milagre. Para elas a crise do petróleo de 1973, funcionou como álibe perfeito para uma situação de duplo impasse que o país atravessava. Por um lado o milagre dava seus primeiros sinais de esgotamento em decorrência das inúmeras contradições internas. Por outro, a queda das elevadas taxas do crescimento econômico retirava do regime político o precário “chão” de legitimidade popular que buscava mobilizar. No capítulo VI falam sobre a mobilização popular e as revoltas, o renascimento do movimento sindical como legitimadores de suas ações. O ressurgimento do espaço político partidário e a articulação das oposições, o surgimento de novos partidos como: PP, PTB, PDT, PT. Por fim insistem que o golpe de 64 não correspondeu em nenhuma mudança estrutural no país, e que a crise econômica, a crise de legitimidade e os movimentos de massa deram a tônica à chamada abertura.
Mendonça e Fontes se utilizam de diversos outros autores para realizar sua obra. O tempo todo, elas procuram dialogar com esses autores, que deram grande contribuição para esse livro. Dentre esses autores destacaremos: René Armand Dreifuss, Kenneth P. Erickson e Paulo Krischke.
Dreifuss, em sua obra “A Conquista do Estado”, faz uma abordagem inovadora de 64, como articulação política entre tecno-empresário, militares e multinacionais, virando o assalto ao poder. Mendonça e Fontes fazem uma abordagem semelhante, mostrando a importância dos empresários e o domínio econômico das multinacionais durante esse período. Erickson, em sua obra, “Sindicalismo no Processo Político no Brasil”, trata das relações sindicalistas do estado desde a década de1930, ganhando tom analítico mais acurado ao discuti-las no período pós-64, dando ênfase à política trabalhista e salarial. Em História do Brasil Recente, as autoras semelhantemente abordam a política trabalhista e salarial dos militares, a intervenção do estado nos sindicatos e a luta dos trabalhadores.
Krischke, em “Brasil: do Milagre à Abertura”, abrange as diversas temáticas no domínio econômico, político e social, no pós-64. Mendonça e Fontes também fazem essa análise em sua obra.
O livro contém 85 páginas, divididas em nove capítulos, incluindo introdução, conclusão, vocabulário crítico e bibliografia. Os capítulos estão subdivididos em tópicos.
O livro possui uma linguagem simples e objetiva, utilizando uma bibliografia ampla e diversificada. Também utilizam vários quadros e tabelas que ajudam na compreensão dos aspectos econômicos, políticos e sociais do período que se propuseram a estudar. Esses recursos foram utilizados pelas autoras em sua fundamentação teórica, para provar a sua tese, justificar seus pressupostos e resolver a problemática proposta.
Em minha opinião, o tema e o período que as autoras se propuseram a estudar, foi bem debatido e esclarecido, contribuindo muito para a história. O livro esclarece vários aspectos políticos, econômicos e sociais do período, que é de extrema relevância para o estudo da nossa história recente. No entanto eu acho que o livro é um pouco reduzido em argumentos, pois alguns tópicos como as lutas sindicais e a questão dos trabalhadores, entre outros, mereceriam um número bem maior de páginas para um maior aprofundamento da questão, mas compreendo que não é esse o objetivo das autoras. Indicaria o livro para alunos de história do nível médio e superior, e também para antropólogos, sociólogos e pesquisadores em geral que pretendam conhecer as questões políticas, econômicas e sociais do período.


Referência:
• MENDONÇA, Sônia Regina de. FONTES, Virgínia Maria. “História do Brasil Recente: 1964-1980”. São Paulo. Ática.

Análise de Livro didático

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO
PRÁTICA DE ENSINO I
Prof: Itamar Freitas
Aluno: Anselmo Vieira da Silva

Análise de Livro didático

Faremos aqui uma análise da coleção História: sociedade e cidadania, uma vez que as resenhas do PNLD analisam a coleção conjuntamente, de Alfredo Boulos Júnior. Sendo que o enfoque será o volume 1 dessa coleção, que possui 214 páginas e 17 capítulos. Em sua estrutura contém: noções introdutórias aos estudos históricos, os primeiros seres humanos incluindo os povos da América e África e as civilizações antigas até o império romano.
A coleção incorpora algumas inovações da área pedagógica, segundo a resenha do PNLD, como a leitura de imagens que estimula os alunos a criar suas hipóteses sobre determinado tema, consta um apêndice com informações adicionais no final de cada volume. Um dos pontos fortes da coleção são os exercícios e as atividades, por outro lado não se verifica eficaz preocupação quanto ao grau de complexidade do conteúdo. O professor deve selecionar o conteúdo que será repassado para o aluno, já que é impossível estudar todo o conteúdo em um ano letivo. O livro apresenta diferentes versões, interpretações e visões de um mesmo tema, recorrendo a uma produção historiográfica atualizada e qualificada, fazendo com que o aluno conheça opiniões diferentes e tire sua própria conclusão. Um exemplo desse contraste de visão está nas páginas 47 e 48, quando o autor fala sobre a origem do homem, ele apresenta dois textos, um escrito por um defensor do criacionismo e outro escrito por um defensor do evolucionismo. Essa forma de apresentar os temas faz com que o aluno não fique bitolado a uma ou outra tese. A coleção também manifesta a preocupação de apresentar a história da África e da Ásia superando um pouco o eurocentrismo presente em nossos livros didáticos. Outra inovação da coleção diz respeito à denominação de trabalhadores escravizados ou de africanos escravos, quando se refere ao que conhecemos, por todo tempo, pejorativamente, por negros escravos. Isso faz com que os alunos vejam os africanos com olhos diferentes dos da nossa geração, uma vez que alguns intelectuais justificavam a escravidão com base na inferioridade do povo africano. Nessa coleção também é evidenciado a cultura afro-brasileira, combatendo o preconceito racial que está enraizado em nossa cultura. Mais um ponto forte dessa coleção é o grande número de documentos que o livro trás e a maneira como o autor os utiliza. Ele não utiliza os documentos para provar o que diz e sim para fazer o aluno pensar e criar hipóteses a cerca de algum tema. A obra destaca-se pelo acervo de fontes textuais e iconográficas.
Alguns pontos dessa coleção são considerados negativos pela resenha do PNLD, os descreveremos a seguir. A quase nenhuma orientação sobre o trabalho a partir do ambiente próximo do professor e dos alunos e da cultura material local. O livro utiliza algumas expressões incomuns e de difícil compreensão para os alunos. Também se percebe descuido quanto à harmonia de algumas páginas, com o excesso de recuo, algumas ilustrações pouco integrada, dando uma impressão visual que desfavorece a atenção do aluno.
Depois de ter lido o livro História: sociedade e cidadania, e a resenha do PNLD sobre este livro, e comparando os pontos positivos e negativos que a resenha trás sobre o livro, com a obra propriamente dita, verificamos que existe, e não se pode dizer o contrário, enorme coerência entre o que diz a resenha a respeito do livro e o que consta no livro de 5ª série dessa coleção. Dessa forma podemos afirmar que as resenhas do PNLD inspiram confiança, e é um instrumento de grande ajuda para o professor na hora de escolher os livros que serão trabalhados com seus alunos.